Pesquisa da empresa Ipsos encomendada pelo Google em 2015 mostra que 52% da população assistem TV e acessa a internet ao mesmo tempo pelos dispositivos como tablets, smartphones ou computadores e 68% vê televisão enquanto utiliza exclusivamente o smartphone. Os dados motivaram as jornalistas Mariane Ventura e Tássia Becker a realizar pesquisa, desenvolvida no mestrado em jornalismo da UFSC, em que fazem relação entre a TV e novas tecnologias.
A cabeleireira Ana Cláudia Peixoto, em Campo Grande, utiliza a segunda tela ao assistir à TV. Ela considera as informações veiculadas pela televisão mais confiáveis e a internet tem como vantagem a possibilidade de interagir e opinar. Ana Cláudia Peixoto ressalva que muitas pessoas assistem a TV enquanto usam o celular, tablet ou notebook porque são "ansiosas por informação e querem ficar antenadas o tempo todo".
Pesquisa divulgada em 2015 pela Fundação Getúlio Vargas mostrou um aumento significativo no número de dispositivos eletrônicos conectáveis à internet (smartphone, tablet ou computador) no Brasil, três aparelhos para cada duas pessoas. Esse crescimento afetou a maneira de produzir matérias jornalísticas, agora que as emissoras de TV difundiram o uso de aplicativos que interagem com o telespectador.
O consultor tecnológico, Raphael da Silva, utiliza com frequência o celular por causa do trabalho, além do uso do aparelho para ligações, mensagens de texto, entre outros. Silva observa que a segunda tela complementa o conteúdo transmitido pela TV, por isso a necessidade do uso de mais de um aparelho para acompanhar a veiculação de informações. "Quando há muita informação circulando, dois meios se complementam, como por exemplo, premiação do Oscar na TV e os comentários na rede social Twitter".
Acadêmico de Engenharia Mecânica, Vitor Kobayashi, faz uso do smartphone enquanto assiste TV para conversar com as pessoas. "A vantagem é de ser multifuncional. Fazer mais de uma atividade ao mesmo tempo já que elas não necessitam de uma atenção específica".
As jornalistas Tássia Becker e Mariane Ventura realizaram uma análise exploratória sobre as novas tecnologias utilizadas pelas emissoras de televisão como uma forma de atrair a atenção do telespectador. Segundo dados da pesquisa cerca 30 milhões de brasileiros utilizam pelo menos três telas diariamente, TV, computador e smartphone.
Tássia Becker explica a necessidade de uma nova estratégia para atrair mais audiências às emissoras de televisão. "Uma das saídas do telejornalismo neste cenário é explorar a segunda tela". De acordo com a 2nd Screen Society (Sociedade da Segunda Tela), a segunda tela é toda e qualquer experiência da audiência que inclui a TV como um elemento integrante. Ou seja, é uma maneira de mostrar conteúdo além do que está na televisão e permitir o compartilhamento por meio das redes sociais pelos seus usuários para alavancar os índices de audiência.
Em Campo Grande o telejornal MSTV primeira edição da TV Morena, afiliada à Rede Globo, lançou em abril de 2014 um aplicativo de interação entre a equipe de jornalismo e o telespectador, chamado Bem na Hora. Ele permite que a pessoa envie uma foto, vídeo ou sugestão de pauta em forma de texto. O conteúdo enviado é analisado pela produção do programa que decidirá produzir, ou não, uma matéria.
O aplicativo, segundo a jornalista e pesquisadora Tássia Becker, é classificado como ferramenta de jornalismo participativo, e não caberia no conceito de segunda tela. "Se fosse um aplicativo que tem um conteúdo complementar ou relacionado àquela pauta que está sendo exibida poderia ser considerado. Nesse caso, o Bem na Hora seria mais para interação e um canal de diálogo com o público".
O jornalista Alexandre Cabral é o responsável por fazer as matérias a partir das pautas sugeridas pela população por meio do aplicativo da TV Morena. Ele afirma que o objetivo é estreitar a relação do telespectador com o jornal e dar visibilidade às situações que não aparecem frequentemente nos telejornais.
A pesquisa de Tássia Becker e Mariane Ventura foi apresentada no 13º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor), realizado nos dias 4, 5 e 6 de novembro, em Campo Grande. Pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) em 2013, em parceria com Instituto Conecta e a Worldwide Independent Network of Market Research (WIN) mostrou que os brasileiros passam cerca de 84 minutos por dia no smartphone, número que ultrapassa a média global em cerca de 10 minutos. Outra perspectiva sobre a conectividade foi apresentada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), em que até 2017 cada brasileiro terá um dispositivo seja ele smartphone, tablet ou computador.
A facilidade de acesso a qualquer tipo de informação que estes aparelhos possibilitam ao usuário também criaram dificuldades na produção de notícias dentro jornalismo. Tássia Becker enfatiza a necessidade de uma equipe qualificada para lidar com a tecnologia. "A televisão tem que trabalhar de forma de potencializar o conteúdo original junto com o público".