IGUALDADE DE GÊNERO

Projeto incentiva alunas do ensino médio a ingressarem na área de Ciências Exatas

A participação das mulheres é pequena nas Ciências Exatas e diminui na medida em que avançam nos estudos, no Brasil cerca de 30% dos alunos de graduação do curso de Física são mulheres, na pós-graduação são 20%

Gabriela Dalago e Gabrielle Tavares Rodrigues23/09/2019 - 21h56
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A parceria entre a Prefeitura de Campo Grande, por meio da Agência Municipal de Tecnologia da Informação e Inovação (Agetec), com a Subsecretaria de Políticas para a Juventude e o Google Play, apresentou para alunas do Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS) o Desafio Change the Game, projeto criado para meninas que estão no Ensino Médio desenvolverem games. Este é o primeiro ano do desafio no país, que começou a ser implementado nos Estados Unidos em 2018. 

A representante da Associação para Promoção da Excelência do Software Brasileiro (Softex), Glaucia Fullana ministrou uma palestra para promover o projeto, que é uma iniciativa do Google Play, para incentivar e apoiar a representatividade feminina na produção de jogos para dispositivos móveis, e atrair jovens para a área da tecnologia. “São duas ideias vencedoras, que vão para São Paulo para desenvolver um game que será disponibilizado durante um ano no Google Play”.

As participantes têm liberdade no processo de criação e podem escolher o tema, a história e o estilo do jogo, sem necessidade de conhecimentos de programação e desenvolvimento de softwares. Os projetos vencedores serão acompanhados por um grupo de desenvolvedores durante cinco dias para a produção. As ganhadoras terão a oportunidade de conhecer a sede do Google em São Paulo, e receberão acesso a 140 horas de cursos voltados aos fundamentos da programação para desenvolvimento de jogos. O projeto inclui a participação de meninas transsexuais que tenham o nome social legalizado em cartório. As propostas para o jogo serão avaliadas por uma comissão formada por mulheres de várias áreas, como Administração, Jornalismo, Tecnologia e Design. 

A aluna do terceiro ano do Ensino Médio do IFMS, Milena Maciel dos Santos explica que participou da palestra para adquirir confiança para desenvolver o game, e relata que se interessou porque os organizadores e professores ofereceram ajuda no processo de desenvolvimento. “Eu estava muito insegura, porque não sabia se conseguiria. Mas quando sai eu percebi que não estou sozinha, porque falaram que podem dar ajuda. Então não vai ser tão complicado assim”. Milena Maciel quer cursar Biologia e diz que vê o desafio como uma forma de incentivo às mulheres que desejam ingressar em áreas com predominância masculinas. “Aprendi hoje que a gente não consegue fazer muita coisa sozinha, tem que ter alguma ajuda. E que esse desafio é uma grande oportunidade de ter mais conhecimento e ingressar na área que tem poucas mulheres”.

A professora do curso de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e diretora da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Márcia Barbosa relata que a participação das mulheres é pequena principalmente nas Ciências Exatas e diminui em medida ao avanço dos estudos. Ela diz que no Brasil cerca de 30% dos alunos de graduação do curso de Física são mulheres, na pós-graduação são 20% e pesquisadoras são em torno de 4%. “A má notícia é que em todas as áreas esse decréscimo existe. Por exemplo, nas áreas biológicas começa com 60% e termina em até 25%. Tem o decréscimo mas é menos catastrófico do que nas áreas das exatas”. Ela ressalta que os aspectos sociais, como machismo, são uma das causas para esse processo acontecer. “Existe uma questão cultural de que coisas que são muito inteligentes e geram muito dinheiro são para homens”.

A cientista avalia o aumento do acesso das mulheres à educação como um aspecto positivo. Segundo ela, os problemas de desigualdades desaparecerão se mulheres resistirem à "opressão" e incentivarem meninas a persistirem nos estudos. “Temos que fazer um esforço para continuar a boa luta de se organizar, de levantar questões de assédio moral e sexual. É necessário trabalharmos juntos porque já temos um corpo de pessoas que têm consciência sobre os problemas, e isso já é ótimo quando acontece”. Márcia Barbosa ressalta que a diversidade garante lucro e eficiência em todas as áreas do conhecimento. “Quando grupos diversos trabalham juntos existe uma coisa chamada inteligência coletiva. E com isso acontecem grandes transformações. Diversidade é mais eficiência, diversidade dá juros e correções monetárias. Quando a gente começa a fazer gracinha e piadinha para afastar essa diversidade, a gente está soterrando economicamente um país”. 

A estudante do curso de Engenharia Civil da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Luana Hng Vasconselos de Oliveira diz ter presenciado várias situações de machismo em sala de aula. Ela relata a ocasião em que os alunos da turma em que estuda disseram que as alunas deveriam fazer a planta da cozinha em um trabalho da disciplina de Geometria Descritiva. “Teve uma vez que tinha um professor machista em uma matéria, e uma menina estava indo muito bem na turma, ai ele falou ‘olha só meninos, quem está indo bem é uma menina, vocês estão ficando para trás’”. Luana Oliveira complementa que um de seus amigos pediu para o professor revisar a nota de sua prova porque viu que ela obteve uma pontuação maior do que a dele. “E várias vezes acontecia de quando meus amigos diziam que não tinham entendido um conteúdo, e eu ir explicar pra eles, eles repetiam exatamente o que eu tinha falado, mas como se tivessem me explicando, sendo que eu tinha acabado de falar que eu tinha entendido”.

Serviço:

As inscrições para o Desafio Change the Game vão até o dia 30 de setembro, para participar as meninas devem ter de 15 a 21 anos e precisam estar matriculadas regularmente no Ensino Médio. 

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