SEGURANÇA

Cresce o número de assaltos e roubos na UFMS

Ocorrências de roubos e furtos dentro do campus preocupam acadêmicos da UFMS

João Fusquine, Larissa Moreti e Larissa Vizoni 7/08/2016 - 01h17
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Roubos e furtos estão cada vez mais frequentes na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) devido à falta de segurança dentro do campus. Segundo dados da Divisão de Proteção Patrimonial e da Comunidade (DIPP), em 2015, foram instaladas mais de 200 câmeras de monitoramento na instituição para evitar assaltos, que continuam a ocorrer. Nas últimas três semanas, cinco acadêmicos foram vítimas dessas situações e tiveram objetos pessoais roubados.

A acadêmica de Jornalismo, Lethycia dos Anjos Silva, 18, foi assaltada próximo à Biblioteca Central da Universidade no último dia 29, sexta-feira. A estudante estava sentada na grama com um amigo, na parte de trás do prédio, quando foi surpreendida por um homem que encostou uma faca nas costas dela e anunciou o assalto. “Meu amigo saiu correndo atrás do assaltante pela avenida da UFMS e outros alunos tentaram ajudar, mas ele pulou a cerca e fugiu para o mato. Ligaram para a polícia, que fez uma ronda na área, mas não encontraram nada”. Lethycia Silva registrou o acontecimento na DIPP da UFMS e depois foi encaminhada para a Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário (DEPAC) do bairro Piratininga, onde registrou o boletim de ocorrência.

O estudante de biologia, Renan de Almeida Barbosa, 22, também foi assaltado, com arma de fogo, no começo do mês de junho. Dois homens de bicicleta invadiram a calçada e abordaram Barbosa enquanto ele caminhava na rua UFMS, próximo à Faculdade de Computação (Facom). “Entreguei meu celular e não falei nada, não tive nenhum tipo de reação. Preenchi um registro de ocorrência na Universidade, um formulário meio que padrão contando o que aconteceu. No dia seguinte, eu peguei o que era necessário para fazer um boletim de ocorrência e fiz um boletim na delegacia mais perto aqui da faculdade, no bairro Piratininga”. Barbosa protocolou pedido de ressarcimento do valor do celular na Universidade. A Pró-Reitoria de Infraestrutura (PROINFRA) da UFMS contatou o acadêmico uma semana depois do acontecimento para mostrar as imagens captadas pelas câmeras de segurança do local, que flagraram o momento em que os assaltantes entraram na universidade e não o ato do roubo. “Não tive nenhuma resposta da UFMS. Eles falaram que iam levar o ressarcimento pra ser encarregado pela empresa terceirizada de segurança, só que não tive uma resposta de nenhuma das partes”. Para ele, uma possível solução seria ocupar mais os espaços da Universidade.

Estudante de Eletrotécnica Industrial, Ramon Alessandro, 17, foi assaltado quando saía do Complexo Multiuso Dercir Pedro de Oliveira no último dia 22, segunda-feira. O ladrão o abordou de bicicleta, apontou uma arma e pediu seu celular. “Falei com o segurança e ele disse que o procedimento era fazer o B.O, mas como era sexta-feira de noite eu não tinha como ir em uma delegacia. Depois, com a semana corrida, eu acabei deixando de lado”. Para Alessandro, a situação da segurança da Universidade é mais crítica durante a noite e que os alunos que estudam nesse período precisam de mais atenção. “A UFMS é grande demais para não ter uma segurança melhor. Quem se sente seguro lá dentro são os ladrões, que sabem que não vão ser presos nunca”.

O chefe da DIPP, Milton de Alcântara, explica a importância de se relatar os acontecimentos assim que eles ocorrem para facilitar o controle interno e auxiliar na investigação. “É importante relatar o fato para evitar boatos. Tiveram três ocorrências, aí o pessoal começa a falar que está tendo assalto toda hora, vira aquela boataria dentro do campus e acaba assustando todos mais ainda. Tivemos ocorrência de assalto aqui em 2014, em 2015 não tivemos nenhuma. Nós temos o controle do que é registrado”. O sistema de segurança da UFMS conta com 12 postos terceirizados espalhados dentro do campus, além de equipes de cinco a seis vigilantes em cada plantão. A central da Divisão de Segurança funciona 24 horas e pode ser contatada pelos ramais 3345-7085 e 3345-7087.

Depois que o fato é registrado, os procedimentos internos da DIPP consistem em analisar e priorizar os locais com maior frequência de casos para aumentar a vigilância e melhorar a iluminação nesses pontos. É necessário fazer o registro na Polícia Civil porque é o órgão responsável pelas detenções dos assaltantes.

Além dos assaltos, os furtos, situações em que o criminoso não tem contato com a vítima, também ocorreram. É o caso do acadêmico de Zootecnia, Westerlly Jacobson da Silva, 25, que teve sua bicicleta roubada próximo do Restaurante Universitário no dia 28 de julho. O estudante conversou com os seguranças e com o responsável pelas imagens das câmeras próximas ao local e registrou boletim de ocorrência na DEPAC do bairro Piratininga.

Cargo em extinção

De acordo com relatos dos agentes de segurança, a Divisão de Proteção Patrimonial e da Comunidade enfrenta problemas que afetam diretamente a qualidade do serviço prestado dentro da Universidade. Para o vigilante Luiz Carlos Vasconcelos, que trabalha como segurança na UFMS há 36 anos, falta um investimento em equipamentos, viaturas e treinamento. “Os problemas de segurança só são atendidos quando precisa. Com um investimento correto, sai um serviço legal. Não adianta botar câmeras se não tem quem opera. Tem que ter o material humano e treinado”.

Outro problema grave apontado pelos vigilantes é a terceirização da categoria. Atualmente, são poucos os funcionários concursados e a maioria do corpo de segurança da Universidade é composta por agentes terceirizados com contrato limitado de serviço. A seguridade do campus é diferenciada por causa da diversidade de pessoas que circulam nele. O vigilante Israel Ferreira destaca a importância de entender essa particularidade e as diferenças entre a preparação de um segurança concursado e o terceirizado, que trabalha por tempo insuficiente na instituição para se adaptar a essa situação.

Na UFMS, os vigilantes realizam muitas outras ações que demandam conhecimentos e treinamento em outras áreas. As funções compreendem, além da segurança patrimonial e da comunidade, prestações de outros serviços, como primeiros socorros e assistência mecânica.

O acadêmico de Ciências Sociais e técnico administrativo da DIPP, Diego Gonçalves afirma que há diferenças entre as contratações de funcionários concursados e terceirizados e as regras utilizadas para cada tipo de admissão.

Ações e soluções

A Universidade Federal de Mato Grosso do Sul possui desde 2013 uma Comissão Permanente de Segurança composta por docentes, discentes e técnicos administrativos. As reuniões têm a finalidade de identificar os problemas e enviar as soluções aos órgãos competentes.

Segundo o presidente da Comissão, Fernando Lopes Nogueira, várias reuniões foram realizadas desde a implementação do grupo para planejar ações de seguridade, como aprimoramento do sistema e iluminação. “Resta ainda o sistema de identificação de entradas e saídas da UFMS e estacionamentos, para então nos reunirmos e implantarmos outras propostas sobre o tema. A crise nacional fez o ritmo das obras diminuir”.

Nogueira informou que os dois casos mais recentes foram solucionados e que aumentará o número de seguranças nos horários e locais onde ocorreram os crimes. “Ocorre que a universidade é de todos, assim a comunidade está sujeita a eventos deste tipo, aliás, todo o país vive uma crise de segurança pública. Dentro do que podemos executar e implementar para melhorar as condições de segurança, está sendo feito”.

Os acadêmicos também se organizam para tentar minimizar os problemas. A acadêmica de Jornalismo, Júlia Beatriz de Freitas, 21, publicou recentemente no seu perfil pessoal do Facebook um projeto de carona para ajudar os colegas que moram perto do campus. Júlia Freitas relata que teve a ideia depois de viajar para Florianópolis e perceber que lá os estudantes organizam caronas entre amigos, poucos andam a pé ou dependem do transporte público no caminho para a faculdade. “Comprei um carro recentemente, geralmente saio da faculdade à noite e volto sempre sozinha. Muitos dos estudantes moram perto da universidade e pensei que essa seria uma forma de ajudar nessa questão. Para mim, não é nenhum problema levar as pessoas e, se me oferecessem quando eu não tinha carro, eu ficaria muito contente. Cada um tem que fazer um pouco a sua parte e tentar se ajudar”.

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