Os professores e estudantes do Conselho do Centro de Ciências Humanas e Sociais (CCHS) da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) realizaram reunião extraordinária na última quinta-feira, dia 16, para discutir a divisão do CCHS em três faculdades, conforme as áreas de conhecimento. O projeto existia desde 2013 e agora as discussões foram retomadas com a gestão do reitor Marcelo Turine. A proposta, com a divisão do CCHS, é criar as faculdades de Artes, Letras e Comunicação (Falc) e Educação (Faced), e uma terceira faculdade que reunirá os cursos de História, Filosofia, Ciências Sociais e Psicologia.
A diretora do CCHS, Vera Lúcia Penzo Fernandes afirma que o principal motivo para a divisão do Centro foi a dificuldade em gerir os 25 cursos com 2.750 alunos e 200 professores. Para Vera Fernandes, a falta de representação do CCHS nos órgãos superiores da Universidade também foi um dos motivos que ajudaram na decisão em dividir o Centro. A diretora explica que em 2014, os cursos de Administração, Ciências Contábeis, Administração Pública, Turismo e Tecnologia em Processos Gerencias se separaram do CCHS e fundaram a Escola de Administração e Negócios (Esan). "Todas essas decisões se pautam na questão de afinidades diárias, visando o fortalecimento dos projetos de pesquisa, ensino e extensão, também dos cursos de pós-graduação e a melhoria de atendimento aos acadêmicos. Com uma Universidade tão grande, nós temos a dificuldade de acompanhar e desenvolver projetos que possam minimizar a evasão que existe dentro da universidade".
De acordo com a diretora, foi criada uma comissão em 2013, formada por representantes de todos os cursos vinculados ao CCHS, que elaborou o projeto aprovado pela nova gestão administrativa da UFMS. Vera Fernandes afirma que serão criadas a Faculdade de Artes, Letras e Comunicação (Falc), formada pelos cursos de Artes Visuais, Música, Letras e Jornalismo; a Faculdade de Educação (Faced) com os cursos de Pedagogia, Educação Física e Educação do Campo, e uma terceira que está em processo de regulamentação e abrange os cursos de História, Ciências Sociais, Filosofia e Psicologia.
Vera Fernandes afirma que os cursos terão mais autonomia após a divisão. "Temos aqui unidades administrativas que tem dois cursos e o CCHS tem 25, então com isso a gente vai equalizar a dimensão do Centro". Ela ressalta que outro objetivo da nova gestão administrativa da universidade é extinguir todos os "Centros de Ciências" da Universidade e aglutinar os cursos em faculdades. Segundo a diretora, o próximo a ser reestruturado é o Centro de Ciências Biológicas e da Saúde (CCBS).
O acadêmico de Filosofia, Katriel Kochem explica que não são todos os professores e acadêmicos que aprovam as mudanças. "Os cursos de História e Filosofia não querem que Psicologia faça parte da terceira faculdade. Os alunos e professores dos cursos acreditam que Psicologia será privilegiada. O nosso receio é que, como já aconteceu antes, o curso de Psicologia acabe tendo prioridades sobre os benefícios dados pela Universidade, como por exemplo, quando abriram vagas para professores de Filosofia e que acabaram sendo cedidos para Psicologia. Queremos evitar que nesta faculdade aconteça este tipo de coisa novamente".
Kochem afirma que durante uma reunião, realizada no dia 20 de janeiro, os representantes dos cursos de Filosofia, História e Ciências Sociais decidiram que haveria uma votação sobre entrada do curso de Psicologia na Faculdade formadas por esses cursos. "Eles queriam montar o Instituto deles, mas não teve verba, aí foi instituído que eles entrariam junto com a gente. Mas os três cursos originais [Ciências Sociais, História e Filosofia] já tinham um projeto inicial de montar uma Faculdade entre a gente. E de repente isso foi imposto para a gente".
Segundo Kochem, a Faculdade de Educação tinha aceito o curso de Psicologia como parte da unidade, porque possuíam similaridades, com a Faculdade organizada com os outros cursos não houve espaço para Psicologia, que integrou a terceira faculdade. "A gente tem receio, porque eles são mais antigos, possuem mais projetos, têm mais questão econômica, e tememos que isso nos prejudique, os cursos mais novos, afinal Psicologia tem mais alunos e professores. Temos medo de crescer a custo de Psicologia e não todos juntos como uma faculdade". A solução que encontraram, segundo Kochem, é garantir no projeto que as diferenças entre os cursos sejam tratadas de forma igual e especifique qual será a função de cada curso na Faculdade.
O diretor do Centro Acadêmico de Economia, Vinicius Carneiro afirma que quando criaram a Escola de Administração e Negócios (Esan) na UFMS excluíram o curso de Economia, que permaneceu no CCHS. "Ninguém entendeu muito porque a gente não foi para a Esan e embora tivéssemos proximidade teórica com o CCHS, somos afastados fisicamente do Centro, pois estamos localizados próximos da Esan, perto do Lago do Amor". Carneiro diz que os professores e alunos do curso discutiram se com as mudanças no Centro, o curso de Economia entraria para a terceira faculdade ou para a Esan. A diretora do CCHS, Vera Fernandes, afirma que o Curso de Economia fará parte da Escola de Administração e Negócios.
Conselho do CCHS debate reestruturação
O professor do curso de Jornalismo, Mario Luiz Fernandes apresentou o projeto de criação da Faculdade de Artes, Letras e Comunicação (Falc) na reunião e explicou que a gestão do reitor Marcelo Turine colocou parâmetros para a criação de unidades de administração setorial. "Possuir dois terços dos professores em tempo integral e com titulação de mestre e doutor. Obter uma média de conceito do curso três ou superior. Oferecer regularmente no mínimo dois cursos de graduação e de pós graduação e ter uma quantidade mínima de 700 alunos". Segundo ele, a Falc apresenta esses pré-requisitos e o projeto apresentado por ele foi aprovado pelo Conselho de Centro do CCHS.
O professor do curso de Pedagogia, Antônio Carlos do Nascimento Osório apresentou o projeto de criação da Faculdade de Educação (Faced) que compreende os cursos de Educação Física, Pedagogia e Educação do Campo. O Conselho de Centro do CCHS aprovou o projeto apresentado, que também apresentou condições básicas para a sua criação. Vera Fernandes ressalvou que nenhum projeto foi apresentado para a criação da terceira faculdade. A diretora explica que isso pode afetar a divisão administrativa do Centro. “A situação de pendência de qualquer um dos cursos pode colocar em xeque todo o processo de divisão do CCHS”.
O professor e coordenador do Curso de Filosofia, Ricardo Pereira de Melo leu uma carta, na reunião, escrita por ele e pela presidente do Colegiado do curso de História, Dilza Porto Gonçalves que explica os motivos para não se aliarem ao curso de Psicologia. Melo declarou que, "os professores dos cursos ficaram espantados pela decisão de ingresso do curso de Psicologia ao projeto e com a aprovação do Conselho pela adesão. A decisão não foi tomada pelos três cursos que faziam parte do projeto original desde o início. (...) Não aceitaremos nenhuma imposição ao projeto original sem a consulta prévia respeitosa e democrática de todos os professores envolvidos na constituição da nossa faculdade”.
A diretora Vera Fernandes explica que os cursos que comporão a terceira faculdade, História, Filosofia e Ciências Sociais não atendem o número mínimo de 700 alunos para a formação da unidade. Ela afirma que, segundo dados da Pró-reitoria de Planejamento e Orçamento (Proplan), os cursos possuem 546 estudantes. O professor do curso de Pedagogia, Antônio Osório declarou na reunião do Conselho que como o número de alunos é insuficiente para se formar a faculdade sem o curso de Psicologia, não há motivo para querer excluir o curso. “Quer forçar uma condição que não existe? Não dá para a área de Humanas que faz um discurso da inclusão, não ter o mínimo de consciência política do processo”.
O estudante de Filosofia, Katriel Kochem afirma que não há exclusão do curso de Psicologia. “O nosso desejo era manter o projeto original, não recusar a entrada, estávamos recusando o autoritarismo. Queríamos a nossa autonomia para discutir a entrada ou não de demais cursos. É importante ter um diálogo e uma conversa”.