ESTÁGIO EM JORNALISMO

UFMS regulariza processos de estágio no Curso de Jornalismo

O estágio em jornalismo é uma prática entre os acadêmicos desde o começo do curso e se torna obrigatório para os alunos que ingressaram em 2015

Géshica Rodrigues e Tatyane Cance12/11/2015 - 08h08
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A Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) alterou a estrutura curricular do curso de Jornalismo em 2015, com base nas novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) aprovado pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), em 2013. A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e o Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ) produziram um manual para orientar os professores e coordenadores dos cursos na implantação da nova estrutura curricular, especialmente sobre os procedimentos que regulam o estágio como obrigatório e supervisionado.

O estágio em Jornalismo era proibido desde 1979 pelo Decreto-Lei n° 83.284 de 13 de março, para, entre outros aspectos, evitar a mão de obra barata e a exploração dos estagiários. Em 2008, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e o Ministério Público do Trabalho (MPT) implementaram regulamentação de estágio acadêmico em Jornalismo, voluntário e em 2010 o Colegiado do Curso de Jornalismo da UFMS aprovou o regulamento de estágio, baseada na normativa de 2008, em vigor para os estudantes que ingressaram no curso até 2014.

Segundo o presidente da Comissão de Estágio do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), professor dr. Gerson Luiz Martins, "os acadêmicos que estão na estrutura curricular antiga fazem estágios voluntários e os que ingressaram em 2015 terão estágio obrigatório e supervisionado". 

O jornalista e presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais (SindJor-MS), Geraldo Ferreira, declara que as empresas privadas e as públicas disponibilizam diversas vagas para os acadêmicos de Jornalismo. “Os alunos querem ir para as redações, conhecer esse mundo que é diferente na prática e não tinha porque impedir”. Ainda de acordo com ele, os acadêmicos de Jornalismo da UFMS encontraram restrições com a regulamentação de 2008. “As empresas ficaram com medo de contratar alunos, porque teriam que cumprir com as determinações estabelecidas pela Fenaj e a universidade só libera o aluno se o contrato estiver de acordo com a normatização”.   

O acadêmico do 6º semestre de Jornalismo da UFMS, Iago Porfírio, estagiou durante três meses em um jornal impresso de Campo Grande e revela que exercia funções de um jornalista formado, como redigir matérias, assinar, fazer horas extras e trabalhar aos sábados e feriados. “Eu entrava às 6 horas da manhã e saia meio dia e, às vezes, saia uma hora da tarde. Se tivesse uma fiscalização seria melhor, porque no papel é bonito, mas a realidade é outro”.

De acordo com a regulamentação da Fenaj de 2008, o estagiário voluntário deve cumprir 20 horas semanais distribuídas preferencialmente em quatro horas diárias e não ser executado aos sábados, domingos e feriados e não pode coincidir com os horários das atividades acadêmicas. 

Fiscalização

A fiscalização das condições de trabalho dos estagiários de jornalismo é de responsabilidade do Ministério Público do Trabalho (MPT). Segundo Geraldo Ferreira o SindJor-MS não acompanha as atividades exercidas pelos acadêmicos, somente recebe as denúncias. “Quando há violação de direitos, a assessoria jurídica do Sindicato leva para o Ministério do Trabalho e eles tomam as devidas providencias”. Ele ainda esclarece que assumiu o cargo em 2013 e que nesse período não foram registradas denúncias no SindJor-MS referentes às más condições de estágio.

Para a acadêmica do 6º semestre de Jornalismo da UFMS, Stefanny Veiga, o estágio é importante, pois o acadêmico vivencia na prática o que estudou na universidade. Ela afirma ainda que a realidade é preocupante. “Quando você estagia acaba ganhando experiência, mas é triste saber que você ganha um salário baixo para fazer o serviço de um profissional formado”.

O professor dr. Fábio Pereira, da Faculdade de Brasília – UnB, realizou uma pesquisa sobre os estágios praticado pelos acadêmicos de Jornalismo. O trabalho tenta mostrar as vantagens e desvantagens do estágio na carreira profissional. O estudo teve como base estagiários e profissionais de Brasília (DF) e foi apresentada no 13º Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo – SBPJor 2015, que aconteceu na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), entre os dias 4 e 6 de novembro.  

Segundo o professor, a pesquisa revelou que para a maioria dos profissionais entrevistados, o estágio é mais importante que a faculdade em si, porque acreditam que aprenderam mais o ofício do jornalista na prática do que dentro da sala de aula.

O pesquisador ainda ressalta que o estágio deveria ser a complementação do aprendizado adquirido na universidade, mas se torna o início de uma carreira profissional. “O que acontece é que primeiro o estágio acaba sendo a porta de entrada, de certa forma, pois o estagiário começa a construir uma carreira a partir desta experiência. Então, o estágio acaba sendo uma forma de minimizar as incertezas de uma profissão instável, que só formar não te garante um emprego ao final do curso”.

      Fábio Pereira, no SBPjor, debate seu estudo. (Foto: Géshica Rodrigues)
 
 
 
 

A acadêmica de jornalismo da UFMS, Fernanda Palheta iniciou seu primeiro e atual estágio em janeiro deste ano. Para ela, que está no último semestre do Curso, o estágio é importante, principalmente, por ser algo relevante no mercado atual, mas é preciso ter uma certa maturidade antes de tentar uma vaga. “Passar por algumas etapas dentro do próprio curso e se dedicar a elas é importante, além de vivenciar a universidade, ocupar este espaço público, com movimento estudantil, projetos de pesquisas e de extensão, pois, muitas vezes, ingressar cedo no mercado dificulta essa vivência”.     

Fernanda Palheta ainda afirma que restringir o acesso dos acadêmicos ao estágio nos primeiros anos de faculdade não evita contratações. “Pelo contrário faz com que a relação de estágio nesta época não siga os padrões exigidos pela regulamentação. Muitos não tem o acompanhamento de um profissional da área, como deve ser, o que precariza a inserção neste mercado. Acredito que o estudante deveria ter autonomia para decidir quando é o melhor momento para estagiar e ter o apoio da universidade e do Curso para que isso ocorra da melhor forma possível.”  

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