SAÚDE

Falta de dados da rede privada causa divergência na interpretação de pesquisa sobre teste do pezinho

A ausência do repasse de dados da rede privada de saúde altera o resultado da estatística estadual do teste do pezinho desde 2009

Camila Andrade, Raquel Eschiletti e Rúbia Pedra27/08/2019 - 14h18
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A Secretaria de Saúde do Governo do Estado (SES) divulgou resultado de pesquisa sobre baixa da taxa de realização do teste do pezinho em Mato Grosso do Sul. A coordenadora Estadual do Programa Nacional de Triagem Neonatal da SES, Carolina Chita Raposo, confirmou que a falta de repasse dos dados dos laboratórios privados tem consequências negativas na hora de realizar as estaísticas. O Instituto de Pesquisas, Ensino e Diagnósticos (Iped/Apae), responsável pela pesquisa, produz os dados da estatística estadual da realização do teste do pezinho.

Os dados coletados pelo Iped/Apae apontam que a realização do exame falha em alcançar mais de 90% das crianças nascidas por ano desde 2009. Segundo a farmacêutica-bioquímica Michelly Zanchin, a má interpretação da SES decorre da falta de envio dos números de testes feitos em laboratórios privados à SES. Ela afirma que é desleal responsabilizar os pais por esses índices. “Nós atendemos a demanda do Sistema Único de Saúde (SUS), porém grande parte do teste do pezinho de convênios nós acabamos perdendo, e eles não entram na estatística de cobertura. Isso acaba sendo uma falha, porque para via de Ministério da Saúde, é como se esses pacientes não tivesse feito o teste”.

De acordo com  Michelly Zanchin Iped/Apae, 82,8% dos bebês nascidos no estado fizeram o exame em 2017. Em 2018, a taxa de realização do exame foi de 85,6%. No Brasil, em portaria do Ministério da Saúde, toda criança nascida tem direito legal de realizar o exame, gratuito no SUS e. De acordo com a coordenadora estadual do Programa Nacional de Triagem Neonatal da SES, Carolina Chita Raposo o número deveria ser de 100% devido a totalidade dos nascidos vivos. “Não é só uma questão dos pais, a gente tem os testes privados, temos a atenção básica que precisa fazer a busca ativa dessas crianças, que às vezes moram em locais remotos, o bebê nasce e não retorna pra fazer o teste, é bem complexo”. 

Para a pediatra da Maternidade Cândido Mariano, Dolores Luiz a ausência desses dados tem um impacto negativo a vista da população. Ela reitera que o teste é um direito da criança e que os médicos pediatras podem notificar o Conselho Tutelar se houver desobediência após a instrução dos profissionais para realização do exame. Dolores Luiz ressalta ser incomum os pais da criança deixarem de realizar o teste devido à cobrança dos médicos e enfermeiros durante consultas ou vacinas. 

O técnico de informática responsável por informar estatísticas e dados sobre os exames do Iped/Apae, Alexandre de Souza explica que para calcular o percentual dos testes é feita uma operação de subtração, composta pelo número de nascidos vivos do estado menos a quantidade de bebês que passaram pelo teste do pezinho. “Nós temos os nascidos vivos do ano, que é obrigatório para o SUS e particular, mas parte do exame não vem para a gente, se consta que tem cinco mil [nascidos] mas só quatro mil passaram por nossa triagem, não tem como saber se esses mil foram para o sistema privado ou não”.

O teste de Guthrie, conhecido popularmente como teste do pezinho, é um exame de prevenção realizado entre o terceiro e quinto dia de vida do bebê e identifica possíveis doenças precocemente. O SUS oferece o teste básico que detecta sete doenças Fenilcetonúria, Hipotireoidismo Congênito, Hiperplasia Adrenal Congênita, Fibrose Cística, Toxoplasmose Congênita, Hemoglobinopatias e Deficiência da Biotinidase

A farmacêutica-bioquímica do Iped/Apae, Michelly Zanchin relata que os exames chegam pelo correio e são direcionados ao laboratório de sorologia. As amostras são recortadas e separadas para a análise e posteriormente o teste prossegue para etapa final, e o resultado é emitido em sete dias úteis. “É um programa onde a gente corre contra o tempo para tentar detectar o quanto antes pra evitar alguma sequela no bebê". 

Os resultados que apresentarem alterações são refeitos e uma nova amostra é coletada. Se o segundo exame confirmar diagnóstico, o Iped/Apae oferece assistência social, psicológica e atendimento médico completo com novos exames complementares.

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